domingo, 19 de abril de 2020

IRBR3


  O resseguro é o sistema de seguros das companhias seguradoras, ou seja o IRB Brasil Resseguros SA assume a responsabilidade de indenizar as empresas seguradoras por danos que possam acontecer devido às apólices de seguros vendidas por elas.

    A oportunidade da vida acontece raramente e não podemos deixar passá-la, pensemos juntos:
  • o envelhecimento da população exigirá produtos diferenciados de seguro nas áreas de previdência complementar e de saúde;
  • o agronegócio tem receitas de mais de 100 bilhões de dólares anuais e hoje menos de 5% da área cultivada no Brasil é protegida por seguro;
  • todas as obras de saneamento, energia elétrica, ferrovias, estradas, portos, aeroportos necessitam do seguro-garantia;
  • toda a exploração de petróleo precisa de seguro; e
  • com os juros baixos o setor imobiliário crescerá muito e junto crescerá o seguro patrimonial.
    O IRBR3 estava cotado a R$ 44,90 no dia 22/01/2020 e em fevereiro a própria empresa efetuou recompras de mais de R$ 230 milhões com preços acima dos R$ 32,00 por achar barato.

    Além do corona vírus houve uma série de erros de transparência que culminaram com a demissão do presidente e diretor financeiro da empresa, vamos a eles:

  • Em fevereiro a gestora Squadra questionou publicamente inúmeros problemas contábeis que não foram devidamente rebatidos pela empresa;
  • o presidente do conselho de administração renunciou, a empresa negou a renúncia e uma semana depois confirmou essa renúncia; e
  • a empresa deixou vazar aos meios de comunicação que a Berkshire Hathaway,  companhia do bilionário Warren Buffett,  estava comprando ações do IRB, o que foi desmentido logo em seguida pelo mega investidor.

    Veremos a seguir os números da empresa:
  • lucro líquido de R$ 1,7 bi em 2019, aumento de 44,7% frente a 2018;
  • dividendos crescentes desde o seu IPO, sendo distribuídos R$ 1,2 bi em 2019 frente a R$ 683 milhões em 2017 aumento de 78,2% em 2 anos, uma verdadeira vaca leiteira;
  • recompra de 5% do total de ações em circulação vigente até 18/08/2021;
  • tem 37% do market share no Brasil, sendo que o segunda empresa neste quesito tem 6%;
  • e a cereja do bolo é a sua participação crescente nos países da América do Sul (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Uruguai) tendo aumentado a receita (prêmio emitido) de 11% em 2014 para mais de 40% em 2019 do total da receita da empresa.

    Ressalto ainda que os 3 principais acionistas (Bradesco Seguros, Itaú Seguros e BlackRock) não venderam suas ações no meio dessa grande confusão, e devo dizer ainda que não espero um grande resultado neste ano.

    Por fim, o motivo de nunca ter indicado a empresa era o seu preço sempre alto, mas apesar da quebra da confiança acredito que a nova diretoria saberá endereçar as soluções necessárias para recuperar a reputação perdida e os R$ 11,92 do fechamento de sexta-feira deixará muita saudade nos próximos anos.

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Caixa é rei…


    Vamos pensar juntos em um cenário onde não se enxerga um palmo na frente do nariz:

  • O dólar já vinha se apreciando e deve continuar assim;
  • a nossa melhoria fiscal vai para o brejo diante da necessidade óbvia de amenizar os efeitos do corona na economia;
  • juros vão cair mais e devem permanecer baixos por um longo tempo;
  • a retomada da economia foi no mínimo adiada por mais um tempo; e
  • com toda essa insegurança preservar o caixa e sobreviver passa ser o objetivo de todos.

    Com base nessas premissas vamos revisitar todos os cases da carteira mastigando, a ver:

  • Beef3 tem cerca de 66% da receita dolarizada, teve quase R$ 800 milhões de geração de caixa em 2019 o que permite projetar cerca de 9% de dividendos a partir de 2021 e por fim tem uma posição de cx suficiente para pagar todas as dívidas até 2025 inclusive;

  • Mrfg3 tem mais de 90% da receita em moeda estrangeira, gerou R$ 1,2 bilhão de cx livre em 2019 mas não está perto de virar pagadora de dividendos devido ao alto endividamento, mas possui um cx de 2 bi de dólares suficientes para honrar todas as dívidas até 2023;

  • Logn3 se beneficia com a queda do petróleo que é disparado o seu maior custo, sofre um pouco com o dólar mas sem muito efeito caixa, vai sofrer com a queda do PIB, mas graças ao seu cx de R$ 660 milhões conseguirá honrar todos os seus compromissos até 2023;

  • Jslg3 gerou cerca de R$ 1,5 bi em 2019, possui um alto endividamento e necessita de muito capital no seu negócio, possui o dobro em caixa das dívidas deste ano, vai sofrer, mas grande parte já está no preço de tela;

  • Pfrm3 gerou R$ 52,4 milhões de cx em 2019 versus uma queima de cx de R$ 55,8 milhões em 2018, vai se beneficiar da justa onda hipocondríaca que vivemos, tem um dívida líquida de R$ 435 milhões e por isso acho que vai sofrer bem nessa crise;

  • Even3 gerou belíssimos R$ 277 milhões de cx em 2019, possui mais de R$ 6,5 bilhões em terrenos próprios não precisando fazer grandes investimentos e com um cx de R$ 940 milhões passará bem este ano, mas dependerá fortemente da recuperação econômica em 2021;

  • Jhsf3 foi profundamente impactada em todos os seus negócios (hotéis, restaurantes, shoppings, incorporadora e aeroporto), mas com R$ 543 milhões em cx suficientes para honrar compromissos até 2023, vai sobreviver;

  • Vvar3 é um case de virada operacional que foi pega no meio onde já mostrava sinais de sucesso, teve que fechar todas as suas lojas e sendo direto vai lutar pela sobrevivência pois tem R$ 4,9 bilhões em dívidas neste ano e somente R$ 4,3 bilhões em caixa mais recebíveis; e

  • Prio3 quando foi indicada frisei que sua participação em uma carteira de ações não excedesse 5%, justamente por medo das oscilações do preço do petróleo, nesse momento com uma dívida de R$ 1,2 bi em 2020 ante um cx e equivalentes de cerca de R$ 680 milhões e um barril na faixa de 30 dólares, veremos uma luta ferrenha pela sobrevivência.

     Estou na bolsa desde 2003 e posso dizer que nunca perdi tanto quanto nesta crise, foi rápido e muito forte, mas a boa notícia é que sobreviveremos.